Leite derramado já é uma expressão que não comunica em sentido e visualização para a nova geração. Quem ainda ferve leite levante o dedo! E quem ferve, que criança ou adolescente está perto nessa hora ou presta atenção ao mundo ao redor quando não está no celular, diante da tv ou de games? Poucos! Aqui, consumimos leite em pó para o café e eu para regar bananas e abacates amassados com chuvinha de açúcar por cima. Para beber purinho uso os de caixa. Bebo geladinho sem açúcar, morninho com mel e canela para acalmar na hora de dormir, vale também fervido com canela e açúcar mascavo e batido no liquidificador até espumar.
Lembro como se fosse hoje de ir ao mercado e na geladeira onde ficam manteiga e iogurtes, embaixo, estatrem lá uns sobre os outros, sacos de leite. Em época de racionamento tinha que se chegar cedo e ir de galera para cada um ir para fila com um pacote e nem notícia da marca favorita de meu avô: Catui, já meu pai gostava do Alimba. O leite era fervido assim que chegava em casa, levado com cuidado para não estourar no meio do caminho e não era permitido demorar papeando com ele dentro do saco ao sol para não talhar.
Para para ferver, não ficar olhando para não demorar e não tirar o olho para não entornar e uma panelinha específica, as simpáticas e charmosas leiteiras (comuns, as de apito nunca vi, só ouvi falar) ou umas esmaltadas muito usadas para fazer papinha de bebes e ferver bicos. Branquinhas geralmente (por sinal comprei uma dia desses, desejo vintage), ou qualquer cacinho (panela pequena na linguagem de minha avó) com ou sem cabo, velha de preferência. A nata eu já contei aqui, aprendi na casa de minha Tia Nélia, a colocar em cima do biscoito Cream cracker como cobertura. Em casa, adicionava um toque especial, salpicava açúcar por cima. Hummmm!!! Gostinho de infância.
Leite com Nescau ou Ovomaltine, batido no liquidificador com pedrinhas de gelo também é de meu gosto e nos tempos de escola ia na garrafa plástica na lancheira ou térmica o leite com achocolatado batido a mão mesmo e sem açúcar de preferência. Em casa na hora do lanche, pão fatia com queijo dentro e chocolate quente era o paraíso das delícias. O tal chocolate era mexido sem parar no fogo: leite, achocolatado e uma colher de maisena para engrossar, sem a tensão do ponto do brigadeiro e sem a doçura para mim exagerada do leite condensado. Para o preparo geral usava o famoso chocolate da caixa dos padres, com receitas no verso recortadas e guardadas até hoje por minha mãe, assim como as do papel do leite condensado. Fazer, ela não faz nem 10% do que recorta e guarda, mas colecionar é com ela mesma (risos).
Aprendi com ela a fazer mingau com leite, uma gema de ovo e uma colher de maisena, espalhado no prato e salpicado de canela em pó. Adoro! E também adoro leite com sucrilhos, com granola e nessa minha viagem pasteurizada, descobri que tomei toda vida e sirvo, leite batizado. É que sempre se misturou na casa de minha avó e mãe e sigo misturando o leite em pó com um tantinho de água antes de adicionar o café, confesso que quando pequena fazia a mistura e comia, sem adicionar café nenhum e chamava de creminho. Tinha uma xícara azul plástica pequena, tipo para cafezinho que era a habitual para meus creminhos das cinco. Esse leite usado para acompanhar o café, quando misturado com água é o que os franceses chamam de leite “cristão”, pois foi batizado com água. Cada coisa! Vou aqui beber um copo de leite e limpar devidamente o bigode. Boa, benta e saudável sexta!