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Filosofias novelescas

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Esse chuvisco, que era acompanhado de chiado, saiu direto do túnel do tempo e dos tubos das tvs antigas, chama as crianças para mostrar e contar histórias.
Já nesse tempo do chiado a tv tinha novelas que no rádio já haviam feito história. Há quem diga que novelas são retratos da vida, que a vida é uma novela e por ai lá vai. Já vi muitas novelas bem legais e outras nem tanto, sou uma telespectadora mais assídua das novelas das 6, acho mais leves, são geralmente de época e poéticas. Ainda sinto falta de Cordel encantado e espero por ela no vale a pena ver de novo. Mas não sou de acompanhar loucamente, deixo de ver por mil motivos, o fim e algumas tramas que escolho, me bastam. Ler o que vai acontecer também faz parte do meu acompanhar, tem quem detesta.
Semana passada, juntei uma pérola de malhação e outra de Salve Jorge para fazer um post. Como boa nordestina, me sentindo tirando leite de pedra. Brincadeira! Aprendi que se formos receptivos e desencanados, de tudo podemos tirar algo bom.
Eu confesso que sempre dei uma assistidinha em Malhação, para estar antenada nas modinhas, gírias, papos, para uso pessoal, depois para uso com os adolescentes a minha volta e agora tenho um aborrecente em casa e a comunicação é difícil, é preciso muita malhação (novela e atividade), para dar conta dessa fase.
Salve Jorge me irrita um pouco, as temáticas, os furos, a repetição de muita coisa, enfim,  o assunto é a filosofia que espremi das duas atrações globais.
Um professor de malhação disse que gente não é para se entender é para se decorar. Ele não entendia o amor e valor que a mulher dele tinha por poesia e ela a paixão e infantilidade dele com bonecos de ação, mas o amor os fez descobrir que eles não precisavam entender, bastava decorar. Aceitar, que dói menos, como disse uma das personagens transloucadas de Salve Jorge.
E que Jorge nos Salve, Deus nos acuda e decoremos as fraquezas e necessidades de quem queremos bem, para que convivamos bem e quem sabe aprendamos  alguma coisa boa ou só mesmo para praticarmos a gentileza e recebermos gentileza em troca. Aceitar que dói menos, decorar ao invés de querer entender e assim seremos felizes para sempre.
Boa semana a todos, uma boa nova novela das sete (novela nova, muita gente não assisti os primeiros capítulos jurando que não vai acompanhar, quase nunca  se segue a jura). Bom trabalho, descanso, passeios, filosofias, poesias, descobertas, decorebas e afins. Fim!

De cor e salteado

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A expressão "de cor e salteado" é do tempo em que se decorava tabuada e respostas de questionários. Eu uso e não sei se muitas pessoas usam ou não, escrevi ela aqui o outro dia e encafifei por não fazer a menor ideia do que significava esse cor e muito menos o salteado, e nunca ter me perguntado isso.
Pois bem, não achei nenhuma explicação específica, mas desenvolvi uma, será que é isso?
A explicação que conclui é que o de cor é um derivativo de decorar, e partindo do princípio de que quem decora grava na mente, salteado é uma forma de dizer que decorou mesmo, independente de ordem, sabe-se salteado, sem exigência de sequencia, mesmo que de súbito, aquilo que se decorou.
Descobri como curiosidade extra, que em inglês, há uma expressão com o mesmo significado “know something by heart“.
Bye abril! Bem vindo maio! Que treinemos o decorar dos gostares e quereres  uns dos outros , com gentileza e respeito, paz e bem. Amém!

Olá maio!

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Maio começa com o dia do trabalho, que me lembra o adeus a Senna, é o mês da data que selou, ainda que teoricamente, mas vale aplaudir, o fim da escravidão. Mês que tem o seu segundo domingo dedicado as mães. Mês em que me tornei mãe. Que seja um mês de oração, libertação, emoção, coração, proteção. Que façamos por onde e se preciso for, hajam milagres. Amém!

Arremesso de compras

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Essa é a cara de quando arremessam minhas compras. Eu já me peguei várias vezes com essa cara, me perguntando se existe algum treinamento para caixas de supermercado arremessarem mercadorias. Escolho tudo, desde latas sem amasso e ferrugens a pacotes de biscoitos inteirinhos, afinal não acho dinheiro em árvore como dizem os mais velhos. Ai chegamos ao caixa e como quem está em um jogo de arremessar coisas e ganhar pontos elas ou eles lançam as coisas. Como assim?
Acontecesse isso com vocês ou essa modalidade é só aqui em terras baianas?
Reclamo algumas vezes, faço cara de chocada, pego as compras assim que a criatura passa, como que participando de um jogo ou maratona.
Acho que poderia haver um workshop coletivo com todas as empresas de supermercados e mercadinhos de bairro, tipo alerta geral, para que os funcionários que operam os caixas mudassem esse mau hábito.
Agora que desabafei, vou aqui dar conta de fazer a lista do mercado do mês e já ir treinando a modalidade salvar compras na hora de passar no caixa.

Eu nordestina

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Parafraseando Ariano Suassuna: "Eu não troco meu oxente pelo ok de ninguém". Não escondo ou maquio meu sotaque, minha cultura, minhas crendices e nordestinices. Tenho orgulho de ser nordestina da gota serena, com farinha, pimenta e uma pitadinha de dança flamenca. Para quem não sabe, sou descendente de espanhóis  Mas troco fácil o azeite de oliva pelo de dendê e bacalhau por camarão seco.
Manias, crendices e superstições são merecedoras de tema de monografia, dia desses faço um post, quando estiver inspirada. Tem até um jargão que diz para coisinhas pitorescas e inusitadas aqui da terrinha que tal coisa "só se vê na Bahia". No vocabulário um apanhado de palavras que na linguagem oral é mais solto e na escrita tem que haver revisão para não passar nada que eu jure que todo mundo fala, mas é nordestês.
Ir com tudo, confiante, aqui se diz ir com fé. E quem tem fé vai a pé, uma alusão a caminhada anual até a Igreja do Sr. Bonfim no dia dele. Sair correndo na doida é sair desembestado ou estabanado. Para dar a volta agente arrodeia e arrancar alguma coisa na força é tirar na tora.
Zangados estamos retados, virados no cão, no mói de coentro e muitas outras variações. Para não azuar vocês, encher a cabeça em bom português, vou parar por aqui. Uma sexta apimentada e abençoada a todos!

Ser poliglota

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"Minha pátria é minha língua
Flor do Lácio
Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?"
Caetano
 "Criar meu web site
Fazer minha home-page
Com quantos gigabytes
Se faz uma jangada
Um barco que veleje
Que veleje nesse informar"
Gil
Eu ontem proseei aqui com vcs sobre ter orgulho de meu nordestês, mas digo isso com o reconhecimento cultural do vocabulário de meu lugar e com o devido valor, uso e conhecimento do português correto, da linguagem oral e escrita adequada a outros meios, como o acadêmico e o profissional. Ainda arrisco  de  lambuja, no internetês, motivo de orgulho dos jovens e conectados. Acentuar, pontuar, saber a origem das palavras, derivar, conjugar, saber termos formais, a meu ver, é atemporal.
Chamei Caetano e Gil para dar uma palavrinha sobre isso, através dos trechos acima e escolhi a imagem como recado para nosso uso tanto da língua local, como do bom português, inglês, abreviações, códigos, símbolos, linguagem internética, clássica, musical e poética.
Sejamos poliglotas de estilos, porque quem sabem mais, entende mais, se explica melhor e tem mais horizontes por dentro e por fora.

Mané, José e Eu

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Nos áureos anos 80, Millôr Fernandes começou a mostrar ao público, em suas colunas nas revistas Isto é, Veja e no Jornal do Brasil, a poesia de Manoel de Barros e a partir de então o poeta saiu da toca e com 80 anos escreveu seus primeiros 10 livros, como um coelho paridor de frases, poemas, filosofias, histórias e sabedorias.
Assisti semana passada a um documentário exibido no canal Cine Brasil, sobre um outro escritor que gosto muito, José Saramago. Um pássaro arisco e politizado que revelou e criou muitas histórias, metáforas e reflexões.
Pena que não se pare como coelhos Manés e Josés. Estão mais é para espécies em extinção, ou vivem escondidos por ai, além dos holofotes e buscas no Google.
Eu tinha planos de ter um autógrafo de Saramago em um de meus livro, só em outro plano agora. De Manoel, não quero autógrafo, mudei de planos, mandarei uma carta para ele, já recebi até por e-mail o endereço. Farei um desenho talvez e de mim para ele, não ao contrário, uma dedicatória, recado, história, carta, que ainda não escrevi, mas já me sinto importante e feliz com o plano de fazer. Tenho candor por bobagens, como diz ele.
Manoel e José, dois nomes tão simples, duas criaturas tão ímpares que em suas palavras dizem além do que elas significam e os significados são muitos ou únicos e funcionam como cutucadas em nosso coração, alma, saberes, no nosso íntimo, no mundo e nas suas mazelas e belezas, na observação da natureza, das coisas e dos homens.

Mais sobre Saramago e eu

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Ontem fiz um postagem sobre Saramago e Manoel de Barros e como já falei muito por aqui sobre Mané, resolvi falar mais um pouquinho sobre Saramago. Tenho algumas coisas dele, dentre elas a sua biografia, um recorte da Folha de São Paulo do dia de sua morte e um apreço imenso pelos seus escritos.
Dentre os livros favoritos estão, em primeiríssimo lugar: "O conto da ilha desconhecida" que não tenho, pois sempre procuro comprar os que ainda não li, "Todos os nomes" e "Pequenas memórias" (tenho os dois). Comprei como desculpa de ser para meu filho o único livro infantil que ele escreveu, chamado: "A maior flor do mundo". Recomendo para os pequenos com e sem segundas intenções.
Comprei pelo site da cultura em uma promoção de livros da Companhia das letras, um novo que eu não conhecia, escrito para o público jovem. O nome e o resumo me pegaram de jeito e essa parte de ser para jovens dei por secundária. O livro se chama: "O silêncio da água" e já está aqui em minhas mãos. Uma fábula construída a partir de uma lembrança da infância do autor que culmina em um despertar de sua lucidez e nos propõe o mesmo.
"Em uma tarde silenciosa, um garoto vai pescar à beira do Tejo e é surpreendido por um peixe enorme que lhe puxa o anzol. Infelizmente, a linha arrebenta, deixando-o escapar. Ele corre até a casa dos avós, com a esperança de voltar, rearmar a vara e “ajustar as contas com o monstro”. Claro que, ao alcançar o mesmo ponto do rio, o menino não encontra mais nada, apenas o silêncio da água".
Não tão facilmente entendido em seus escritos, com posições políticas e religiosas enfáticas e rígidas, estilo narrativo que exige uma leitura atenta e apurada, releituras e aceitação de palavras e referências portuguesas, bem como muitas metáforas, ele é um escritor muito lido aqui no Brasil.
Já li e ouvi muito sobre a não compreensão de ele não ser tão querido em Portugal como é aqui e penso que o mesmo se aplica por exemplo a Jorge Amado, mas conhecido, lido e estudado lá fora, embora aqui seja querido. Isso pode ser entendido do ponto de vista das referências feitas por eles não serem do gosto de quem habita os cenários de suas narrativas ou pelo marketing voltado para o exterior de suas editoras e assessorias.
Do documentário que vi, resolvi destacar a carência e a falta de noção das pessoas. Uma fã, dizer a ele que o ama é meio que não amá-lo, uma vez que o conhecendo saberia da sua reprovação a essas declarações e usos vãos das palavras e sentimentos. Bem como pedir que ele desenhe um hipopótamo em uma fila de autógrafos enorme e vigiada, que anunciou-se não haveria dedicatórias por falta de tempo, apenas autógrafos e o desenho ser para um site de desenhos de hipopótamos de pessoas famosas.
A intimidade e bastidores da vida de Saramago nas filmagens não inclui a fase critica de sua doença, mas tem revelações e tons de despedida, a maior delas feita a Pilar, sua amada, ao fim do documentário. Descobri que o Doc virou um livro de subtítulo "Conversas Inéditas", com algumas coisas a mais e outras a menos.
Sempre muito questionado se teria medo de morrer (fé e salvação não faziam parte de suas crenças), ele mostrou seu ceticismo publicando antes de partir "Caim", sua última interpretação polêmica da Bíblia, que revelou ter o insight da criação na viagem entre Rio e São Paulo, durante o lançamento de A viagem do elefante.
Sobre a Premiação na Academia brasileira de letras, frases e declarações, vale ver o documentário. Para fechar dou a palavra a ele: "Das habilidades que o mundo sabe, essa ainda é a que faz melhor: dar voltas'' e "De que adianta falar de motivos, às vezes basta um só, às vezes nem juntando todos". "A única maneira de liquidar o dragão é cortar-lhe a cabeça, aparar-lhe as unhas não serve de nada". "Tentei não fazer nada na vida que envergonhasse a criança que fui". "O caos é uma ordem por decifrar". "Se podes olhar. vê. Se podes ver, repara".

Psssssss

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A palavra silêncio deriva do latim silentiu e significa “interrupção de ruído”. Isso de o que é ruído está muito questionável nos dias de hoje, tem gente por exemplo que ouve e curte sons que julga ser música e que outros julgam ruído. Tem os ruídos do trânsito, de aparelhos e pessoas em casa ou no trabalho, barulho de obras e tantos outros
O post que está programado para amanhã, fala sobre escutar, que invariavelmente pede silêncio. E temos feito pouco silêncio e escutado pouco. Vale pontuar que ouvir é uma coisa e escutar é outra. Em algumas civilizações, o silêncio é um importante elemento cultural, espiritual e comportamental, praticado livremente e por vezes imposto, para ensinamentos diversos. No filme Comer, rezar e amar, há uma passagem sobre a prática zen e benefícios do silêncio.
No antigo Egito havia um “Deus” do silêncio chamado Harpócrates, com posição de dedo na boca como a das imagens clássicas de enfermeiras. Dentre os gregos, Orfeu, com magia, canto e tocando sua lira, silenciava a natureza e a tudo magnetizava.
Falando em enfermeiras, hoje em dia não há silêncio,respeito, educação nem elegância, seja em hospitais, velórios, cerimônias, reuniões, apresentações teatrais, cinema, elevadores. Todos estão sempre falando, desrespeitando as pessoas, na maioria das vezes com o bendito celular que é um disseminador de ruídos, sejam pelos seus toques e musicas ouvidas pelos usuários indiscriminadamente, seja pelo blá blá blá a qualquer tempo e hora. 
Sem falar da falta que somos para quem esta ao nosso lado quando disponibilizamos maior atenção a quem não está, seja ligando, trocando mensagens ou vendo e compartilhando coisas. Quem está a nossa frente é desprestigiado e se faz o silêncio ruim, o silêncio que nos afasta e desumaniza. 
Vi hoje um nome muito interessante dentro desse contexto para as redes sociais, elas podiam passar a se chamar redes anti-sociais, como esses programinhas de bate bato, por onde se dá parabéns, se da pêsames  envia-se convites e acha-se que está de bom tamanho.
Voltando ao silêncio, isso também acontece muito, agente vai falar de uma coisa e vem mil coisas a cabeça e privamos os outros do silêncio, não por querermos convencê-los de nada a força, nem exaurir nossos argumentos, é o mau hábito mesmo de não respirar, de falar enquanto o outro ainda esta pensando, ou querendo falar também.
O budismo valorizava muito o silêncio como condição para a contemplação, internalização, compreensão, evolução. A meditação, bem como a yôga nos educa muito nesse sentido. Calar, respirar e pausar.
Vivemos num mundo agitado, confuso, poluído sonora, visual e mentalmente. Então celebrar um pouco de silêncio é precioso e como descobri que 7 de maio, hoje, é o dia do silêncio, não descobri porque, resolvi dividir a descoberta com vocês e recomendar o uso do silêncio em nosso favor e do coletivo.

Por cursos de escutatória

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Achei que essa imagem tinha tudo a ver com a postagem
Borboletas amarelas são símbolos de sorte
Nomeei assim a ilustração de Camilla d´Errico
Sorte ter quem nos escute, sabedoria saber escutar
Foi publicado no Correio Popular, em abril de 1999, um texto de Rubem Alves, que seguem trechos:
"Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular.
Escutar é complicado e sutil. Diz Alberto Caeiro que "não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma" (...)
Parafraseio o Alberto Caeiro: "Não é bastante ter ouvidos para se ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma." Daí a dificuldade: a gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer (...)
Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos, estimulado pela revolução de 64. Pastor protestante (não "evangélico"), foi trabalhar num programa educacional da Igreja Presbiteriana USA, voltado para minorias. Contou-me de sua experiência com os índios. As reuniões são estranhas. Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio (...)
Há grupos religiosos cuja liturgia consiste de silêncio. Faz alguns anos passei uma semana num mosteiro na Suíça, Grand Champs. Eu e algumas outras pessoas ali estávamos para, juntos, escrever um livro. Era uma antiga fazenda. Velhas construções, não me esqueço da água no chafariz onde as pombas vinham beber. Havia uma disciplina de silêncio, não total, mas de uma fala mínima. O que me deu enorme prazer às refeições. Não tinha a obrigação de manter uma conversa com meus vizinhos de mesa. Podia comer pensando na comida. Também para comer é preciso não ter filosofia (...)
As pessoas estavam lá para se alimentar de silêncio. E eu comecei a me alimentar de silêncio também. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia. Eu comecei a ouvir.
Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras. É música, melodia que não havia e que quando ouvida nos faz chorar. A música acontece no silêncio. É preciso que todos os ruídos cessem."
É fácil escutar o que agente gosta, concorda. Difícil é escutar o que nos desagrada, sobre o que temos opiniões opostas ou em formação. Escutar é mais que simplesmente ouvir, é ouvir tentando entender, sem julgar, sem pressa.

O valor dos clássicos

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A fotografia é de Paula Gomes
O fotografado, menino e palhaço é Jonas Laborda
"A arte não é um espelho para refletir o mundo, mas um martelo para forjá-lo", disse Maiakóvski, poeta russo. O espetáculo circense, a música, a dança e tantas outras manifestações artísticas, como a literatura são ferramentas de moldar e a literatura infantil em particular é um martelinho forjador de mentes e corações.
"Que mudanças teve a literatura infantil nos últimos 50 anos?
Como eram os livros infantis do século passado e como são os de hoje?" 
Estive pensando sobre essas perguntas que vi em uma matéria da Folha de São Paulo e acho que a literatura mudou muito e para pior no universo dos livros infantis, que são cheios de nada e vazios de essências e simbologia. Assim como os espetáculos circenses, que perderam muito de sua essência por tirar e botar daqui e dali  e ceder a exigências, críticas, modernices e insensibilidades.
Os contos de fadas nada mais são que narrativas curtas com papel lúdico explícito e papéis adjacentes como transmitir conhecimento, valores culturais, morais e cujos temas não devem apenas se referir ao presente, o leitor precisa ler sobre o que lhe cerca e precisa dar uma viajada no tempo e no espaço, para se encontrar, para criar referências.
Personagens e situações que façam parte do passado, do futuro, do imaginário são de extrema importância. Fiquei indignada ao ler uma matéria que não merece referência sobre a falta de necessidade e propósito de as crianças estudarem tantos fatos históricos e que cada uma procuraria informações na medida de seu interesse quando achassem oportuno. A mesma opinião dantesca para os contos clássicos, descritos como ultrapassados por uma mente nada brilhante (e o que me assusta é que há outras que concordam). Exclamei a medida que li, com o perdão do vocábulo: - Que merda é essa!
Cenários, histórias, situações do cotidiano, do nosso universo e de universos e mundos além de nós, são importantes, tem um papel, uma intenção, como a de apresentar diferenças, conflitos, medos, sonhos, expectativas, rivalidades, semelhanças e diferenças de gerações, as etapas da vida, a diversidade de sentimentos (amor, ódio, inveja, amizade, lealdade, coragem). Tudo isso deve ser apresentado e está presente nos contos clássicos e nos novos para oferecerem uma visão atemporal do mundo que nos rodeia e nos oferecem sugestões de lidar com ele.
Assim como palhaço tem que vestir roupas coloridas, o rosto tem que ser pintado, o nariz tem que ser vermelho.
"A literatura cria a felicidade", afirmou Cristovão Tezza, o homenageado da FestiPoa Literária, que acontecerá nesse final de semana em Porto Alegre. Eu estou com ele e acredito que os palhaços também criam e recriam a felicidade e continuarão criando, sem mudar a fórmula e a boa literatura também.
Vou trazer dia desses o conto de João e o pé de feijão, seus símbolos e simbologias, que ao meu ver é ideal para ser trabalhado na escola depois da leitura "descompromissada" da infância, com os adolescentes, extensivo aos pais.

Histórias de Escolas

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Lá na escola onde meu filho estudou da alfabetização até a terceira série, as horas da chegada, intervalo e saída, não eram anunciadas com sirene, mas sim com uma canção, que até hoje, vez ou outra ecoa em meu coração.
"Vou te contar, meus olhos já não podem ver, coisas que só o coração pode entender". Bom demais ouvir essa música todo dia, ele ouvia e provavelmente não dimensionava o quanto era bom. Eu ouvia e sabia e como sabiazinha ainda cantarolo e ouço o vento do passado cantar.
Na minha escola a sirene berrava e essa imagem que escolhi para o post lembra meu caderno, que era cheio de desenhos. O de biologia era um livro ilustrado, com figuras coloridas com lápis de cor e cheias de detalhes. Em todas as disciplinas era muita troca de cores nos títulos e balõezinhos em volta deles, para destacar e dar um toque de charme. Sem falar dos adesivos por toda parte. Nas capas dos cadernos de meu marido eu sempre fazia um desenho, colocava recadinhos, frases, corações. Meus estojos de canetinhas e lápis eram famosos, recheados de frescurices. Sempre gostei de material escolar, de estudar, ler, escrever, aprender. Amava o cheirinho das apostilas e provas impressas no mimeógrafo, cheirinho que o vento as vezes também traz.  Momento recordar é viver!
Uma sexta de recordações antigas e bons novos momentos e histórias para recordar no futuro. Quem tem mãe faz ai um bilhetinho, rabisca qualquer coisa no papel, desenha, recorta e cola, como aqueles que fizemos nos tempos de escola pelo dias das mães, para não perder o hábito de dar bilhetinhos, cartinhas, cartões a quem se ama.
Para quem não tem mais a mãe presencialmente vale um bilhetinho para desabafar e registrar a saudade, que pode ser colocado no pé de uma imagem santa, jogado ao mar ou guardado entre as recordações dela. Vale também um bilhete, carta, cartão para uma mãe amiga, mãe vó, mãe irmã, mãe tia.

Mães de mentirtinha

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Segue um poeminha que li ontem
Escrito por uma amiga
Uma menina voadora, chamada Anne Lieri
Essa gartotinha na foto é Julia em treinamento
Que além de brincar com bonecas
Tem uma grande mãe como exemplo
Ju já está mais crescidinha
Quase uma mocinha

"No mundo do faz de conta
As meninas inocentes
Pequenas mães já despontam
Feito pequenas sementes

 Com as belas bonequinhas
Acalentam doces sonhos
São elas suas filhinhas
Com seus rostos tão risonhos

Trocam fralda, dão papinha
Ninam suaves cantigas
São as mamães e as filhinhas
Brincadeira tão antiga
  
Levam para passear
Conversam como mocinhas
Aprendem assim a amar
São as mães de mentirinha

 Essa leve fantasia
É treino, é uma missão
Coisas da vida, magia
Pra ser mãe de coração"

Lendo o poema fiquei pensando nas vezes que ouvi depois de ser mãe de verdade não ser mais legal dar mesinhas de passar a ferro para as meninas, nem joguinhos de pratinhos e xícaras, feminismo a flor da pele. Argumentos do tipo: Quando grandes se brincarem de casinha as meninas vão estar enjoadas das tarefas ou As meninas quando mulheres já vão ter toda essa trabalheira. Dar maquiagem, roupas é a moda. Já ouvi até a argumentação de que dar livros faz a criança enjoar cedo e depois se desinteressar na escola. Sem comentários, não cabe em meu entendimento.
Ai pensei com meus botões que por conta talvez dessa troca de presentes, dessa adultecência da infância, desses preconceitos, as meninas, se tornam mocinhas que não lavam um copo, não sabem lavar um banheiro, não sabem pregar um botão e ai se tornam mães sem nenhuma prática com mamadeiras e improvisos como as comidinhas de grama de quem brincou de casinha e de ser mãe, colocar fraldas, ninar, levar a boneca para passear e lhe ensinar bons modos.

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"É bom ter mãe quando se é criança
E também é bom quando se é adulto
Quando se é adolescente pensa que viveria melhor sem ela
Mas é erro de cálculo
Mãe é bom em qualquer idade
Sem ela, ficamos órfãos de tudo
Já que o mundo lá fora não é nem um pouco maternal conosco
O mundo não se importa se estamos desagasalhados e passando fome
Não liga se virarmos a noite na rua
Não dá a mínima se estamos acompanhados por maus elementos
O mundo quer defender o seu, não o nosso
O mundo quer que a gente fique horas no telefone, torrando dinheiro
Quer que a gente case logo e compre um apartamento
Que vai nos deixar endividado por 20 anos
O mundo quer que a gente ande na moda, que a gente troque de carro
Que a gente tenha boa aparência e estoure o cartão de crédito
Mãe também quer que a gente tenha boa aparência, mas está mais preocupada com o nosso banho, com os nossos dentes e nossos ouvidos
Com a nossa limpeza interna
Não quer que a gente se drogue, que a gente fume, que a gente beba
O mundo nos olha superficialmente
Não consegue enxergar através
Não detecta nossa tristeza, nosso queixo que treme, nosso abatimento
O mundo quer que sejamos lindos
Sarados e vitoriosos, para enfeitar ele próprio
Como se fôssemos objetos de decoração do planeta
O mundo não tira nossa febre, não penteia nosso cabelo
Não oferece um pedaço de bolo feito em casa
O mundo quer nosso voto mas não quer atender nossas necessidades
O mundo, quando não concorda com a gente, nos pune, nos rotula, nos exclui
O mundo não tem doçura, não tem paciência, não para, para nos ouvir
O mundo pergunta quantos eletrodomésticos temos em casa 
E qual é o nosso grau de instrução
Mas não sabe nada dos nossos medos de infância
Das nossas notas no colégio
De como foi duro arranjar o primeiro emprego
Para o mundo, quem menos corre, voa
Quem não se comunica se trumbica
Quem com ferro fere, com ferro será ferido
O mundo não quer saber de indivíduos, e sim de slogans e estatísticas
Mãe é de outro mundo
É emocionalmente incorreta
Exclusivista, parcial, metida, brigona, insistente, dramática
Chega a ser até corruptível se oferecermos em troca alguma atenção
Mãe sofre no lugar da gente, se preocupa com detalhes 
E tenta adivinhar todas as nossas vontades
Enquanto que o mundo propriamente dito exige eficiência máxima
Seleciona os mais bem dotados e cobra caro pelo seu tempo
Mãe é de graça"
Obrigada Martha Medeiros por esse texto maravilhoso
Obrigada a minha mãe
Parabéns a todas as mães e juízo a todos os filhos

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Se o laço do sapato
Nós, desânimo, cansaço
Tristeza ou o que quer que seja
Tentar te derrubar
Ande descalço, devagar
Só não pare de andar
Boa caminhada!
Boa semana!

Mudanças e caos

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Assisti a uma matéria no Globo News que falava com tom de total compreensão e apoio, sobre uma resolução lá na terra do Tio Sam, de ser opcional a cada estado ensinar a letra cursiva no processo de alfabetização e sobre o desuso da mesma e portanto exclusão de forma definitiva. 
Um dos apresentadores versou veemente, cheio de argumentos e empatia por parte dos outros 3 contra a letra  cursiva, que ninguém mais usa, que não tem sentido e que os motivos de quem defende não tem fundamento comprovado.
Eu escrevo com os dois tipos de letra, escrevo a cursiva com total gosto, destreza e escutando a voz de minha professora de alfabetização, subindo o l, descendo a perninha do g. Também sou ótima para fazer cópias de letras de estilos diversos, das tipo deitadas e magrelas as rechonchudas, sou como o seletor de fontes do Word é só escolher que sai igual. As que adoro fazer sãos as maiúsculas com gracejos, tipo de convite de casamento.
Para não me estender muito e dar a voz ao público, que pode ser contra a minha opinião, afinal não sou dona da verdade, eu penso que a letra cursiva é de total utilidade, seja pela representatividade na assinatura de cada um, como um símbolo pessoal, como traço da personalidade, haja vista a existência da grafologia, que não me admira será questionada e subjugada, seja por que treina a coordenação motora, ensina sobre a prática do uso das letras minúsculas e maiúsculas em nomes próprios, abreviações etc.
Sem falar que as letras cursivas são uma marca gráfica, histórica, cultural e atemporal. Mas há tanto sendo retirado e mudado em prol da praticidade. Agora, por exemplo, para quem não sabe, em muitos lugares, no processo de alfabetização, não é mais necessário que a criança saia escrevendo. Lendo já é o bastante e nem precisa ser bem.
E os pais compreendem, quanto menos trabalho para eles e crianças aprovadas melhor, é o senso comum. E as crianças se enchem de "razão" com suas mentes destinadas a limitação, que para usar computador e vídeo game, não precisam saber escrever, só ler. Um aluno quando eu ensinei, me disse: -Pró, não preciso saber ler e escrever, vou ser jogador de futebol. Dei uma enorme resposta, mas me fiz várias perguntas e lamentei.
Quem sabe daqui a uns anos a nossa língua oficial passe a ser o inglês, pois jogos e programinhas de celular são em inglês, para as redes anti-sociais é um facilitador, afinal com tanto senso de urgência, gosto por praticidade e carência de sentidos, usar o Google tradutor vai dar muito trabalho.
Não se tem mais fitas e nem cds ou dvds de músicas, até mp´s estão em desuso  e  se faz bem poucos álbuns de fotos físicos, muitas pessoas não compram mais livros, simplesmente baixam (e geralmente nunca leem). Enfim, tudo é armazenado na internet para facilitar e com isso se perde o tato, as gavetas, as caixas, pastas, cheias de trecos que alegram, que são lembranças para posteridade ou boas companhias para dias sem luz ou sem conexão.
Dentro dessa facilitação e desapego a tudo que sempre foi como foi e sempre teve um porque: Para que aprender a ler?  Programas, livros, tudo vai ser lido por alguém que tenha aprendido ou por uma máquina programada para tal e só será preciso escutar. Hummm! Tenho sérias dúvidas de êxito, pais já não se escuta mais. Não consigo não me preocupar com a desevolução na qual caminha a humanidade, em passos de formigas, cheia de vontades, leituras e escritas precárias.

Sonhos, circo, cinema e eu

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Sonhos é o nome de um dos curtas da Plano 3 que meu irmão mandou para mim umas imagens e informações para eu divulgar aqui. Enquanto produzia e editava a postagem descobri um site muito legal, chamado: Filmes que voam. Clica no nome para ir lá conhecer esse espaço fantástico, com filmes na língua de sinais e com audiodescrição para usuários com deficiência visual.
Sonhos estará participando da Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis, no Teatro Governador Pedro Ivo Campos, de 28 de junho a 14 de julho. Clica aqui para entrar no mundo de sonhos, para ouvir e ver meu irmão e toda turma da Plano 3 falando do trabalho e para conhecer meu amiguinho artista palhaço Jonas. Sou fã! Aproveitando o merchan, clica aqui para saber da Plano 3 e dos nomes do Brasil, da Bahia e de toda essa trupe marcando presença em Barcelona e na Bolívia agora entre maio e junho.
Fiquei dando pause o tempo todo enquanto assitia a matéria e ampliando essa foto ai em cima, para ver se o rolo de massa, apetrechos, escovinha de tirar a farinha da mesa são de meu pai. Além de produzir, pegar coisas emprestadas é o que a direção de arte faz de melhor. Se o ator que fez o padeiro, nunca mexeu com nada disso deve ter incorporado só de tocar nas cosias cheias de verdade e prática de S. Guillermo, padeiro, confeiteiro e sonhador.
Viva o circo, viva os sonhos de sonhar e os de comer, comi muitos quando pequena, muitos mesmo, meu pai fazia com maestria, aquele cheiro, aquele gostinho, são atemporais. Eu levava para vender na escola e ganhar uns trocados para comprar adesivos, canetinhas e outras bobagens.
Hoje ainda como sonhos na Padaria Piedade, que tem a opção de doce de leite no recheio além de goiabada. A padaria resiste ao tempo e é comandada por meu padrinho, um dia foi pelo pai dele. Um lugar que faz parte da minha infância e do meu paladar com os pães doces e pão de açúcar, biscoitinhos jesuíta e paciência. Vale pontuar que não faz a pessoa ser paciente consumir biscoitos paciência, eu garanto, sempre comi e continuo comendo e paciência não é uma de minhas virtudes.
Tem também aqui em Salvador uns sonhos que são vendidos na cidade baixa, perto do Colégio militar, fritos na hora, em um espaço que cabe uma pessoa, o caldeirão e o balcão. O cheiro e o passar deles quentinhos no açúcar aliados ao preço de uma bala são um convite ao pecado calórico.
Do cinema a vida real, do trabalho de meu irmão e de todos que trabalham com ele e tudo que aprendemos com as produções, as pessoas, o produto final, registro minha admiração, orgulho e agradecimento. Que não são nenhuma novidade, mas vale sempre repetir.
Saramago disse que dentro ou fora dele, todos os dias acontecia algo que lhe surpreendia, desde a possibilidade do impossível a todos os sonhos e ilusões. E assim é com todos nós. Adocemos pois, o paladar, a vida e o sonhar, sejamos palhaços, equilibristas, malabares, mágicos, transformemos sonhos em realidades. "Todos os sonhos são sementes e todas as estrelas são guias" bem definiu Patricia Pinna . Plantemos para colher e que boas estrelas nos guiem.

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Os contos de fadas oferecem distração e formação a leitores de todas as idades, principalmente as crianças, desde sempre, são convites para passeios em mundos fantásticos com retorno garantido ao mundo real, transformados de alguma maneira. 
E quem é transformado ora percebe, ora não, identifica a lição de imediato ou vai identificando aos poucos. Há nos contos recadinhos, feiticinhos, figuras de linguagem, personagens com funções e intenções que nem mesmo depois de crescidos desconfiamos.
Eu tenho tido surtos de indignação com releituras que como limão em leite azedam contos clássicos,  mas há trabalhos muito bons como o Deu a louca na Chapeuzinho e Alice no país das maravilhas que para mim são dois exemplos que além de manterem as lições de moral, personagens e símbolos, conseguiram agregar mais coisas ainda em suas releituras.
No Deu a louca a mesma história sob vários pontos foi uma sacada fantástica. Em Alice o chapeleiro maluco de Jhonny Deep, consegue ser ainda mais fantástico do que sempre foi, além dos aprendizados e ensinamentos de Alice e do coelho com uma roupagem mais teen´s, além da cada vez mais linda e mágica mesa de chá.
Um dos primeiros a direcionar contos ao público infantil foi Charles Perrault, ao publicar os Contos da Mamãe Gansa, que reúne contos como A bela adormecida, a Cinderela, entre outras histórias famosas. Quase um século depois, os folclóricos irmãos Grimm se dedicam a contar e recontar Chapeuzinho vermelho, Branca de neve, João e Maria e chega a vez do poeta Hans Christian Andersen, com o seu O soldadinho de chumbo, A pequena sereia, Os sapatinhos vermelhos, dentre outros contos adoráveis.
Eu sou da opinião de que clássicos são clássicos como já pontuei aqui semana passada. São bem vindas novas produções e histórias, mas toda criança de 100 anos atrás e daqui a cem anos devem ter acesso as histórias infantis clássicas e atemporais. Todas lidas e contadas com toda a sua carga lúdica e moral, para abrirem as janelas dos sonhos e fincarem raízes na formação da personalidade e caráter. Hoje vou fazer umas perguntinhas, momento escola. Topam?
Me conta ai então:
1. Qual seu conto de infância favorito?
2. Você leu já adulto(a) algum conto e teve uma compreensão diferente do que tinha em mente?

Eu Quintana

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Uma sexta de muitos horizontes
Uma vida além deles

Contos, prozas e psicanálise

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Inventaram agora um tal de adultescência definida como sendo uma pessoa  jovem, sem idade suficiente para ser, na média dos 35 aos 45 anos, que não conseguem aceitar o fato de estarem deixando de ser jovens, não assumem suas responsabilidades e tem dificuldades de fazer escolhas.
Será que é possível fazer uma pesquisa com os adultecentes para saber se eles leram ou conhecem a história de João e o pé de feijão?
Como serão os adultos de amanhã se essa classificação se extinguir e adultecência não será mais uma deformação e sim a faixa etária após a adolescência?
Bruno Bettelheim, (1903) em A Psicanálise dos Contos de Fadas, faz uma maravilhosa relação metafórica entre esta dificuldade de aceitar a aquisição da maturidade com a história de João e o pé-de-feijão. Como anteontem entramos por aqui no mundo dos contos de fada, resolvi deixar aqui essa reflexão para o final de semana.
De forma simbólica o autor desse livro faz uma viagem, trazendo os contos para a realidade contemporânea. Soube através do post dos contos de fadas de uma série chamada Once Upon a Time (Era uma vez) que tem entre muitas histórias, releituras e continuaturas (eu que inventei essa palavra) de contos clássicos, apresenta personagens pós histórias dos contos, que por conta de um feitiço lançado por uma rainha má, não se lembram de seu passado. Também soube de um livro de Pedro Bandeira no qual as história pós histórias, a vida das princesas com os filhos, maridos, afazeres e enredos recheados de criatividade são contados de maneira envolvente. Quero!
Vejam só quanto rendeu um prozear sobre contos e encantos!
Voltando a psicanálise´, no caso de João, aquele do pé de feijão, ser enviado de encontro ao mundo significa o final da infância e isso tem que ocorrer também na adolescência, encarando-se  processo longo e difícil de se transformar em adulto e o processo paralelo dos pais em deixar, admirar e incentivar a maturidade dos filhos.
João e o pé de feijão é a história de um menino que luta internamente para se tornar um adulto e representa o conflito psicológico de todos os jovens, que passam e devem passar por essa fase. É o rito de passagem, no qual todo aborrecente aprende lições que os fazem enxergar o mundo de forma mais racional e sensorial. Crescendo fisicamente, João, como todo jovem, necessita também crescer psicologicamente e a partir dessa necessidade se dá o conto e a criação de um lugar mágico, peripécias e a busca da resolução dos seus problemas. 
A mãe de João percebe que ele não é mais uma criança, algumas mães custam a perceber e se sente incomodada como muitas e insiste em manter o filho debaixo da asas. O encontro no caminho até a feira com o senhorzinho engraçado que lhe oferece trocar a vaca por alguns grãos de feijão mágicos, é o uso clássico de uma figura auxiliar, que aparece quando o protagonista está com dificuldades, e ser velho representa sabedoria.
Os grãos são o suporte para o protagonista alcançar seus objetivos, não são a resolução do problema de forma imediata, mas um instrumento, são o símbolo das vicissitudes, pois, ao ser enterrado, a sua forma primitiva morre e brota uma nova vida. Vale pontuar que os.
João escala o pé de feijão três vezes. Na primeira vez, ele traz uma sacola cheia de ouro e simbolicamente que com o passar do tempo, o ouro irá termina. Na segunda vez, ele já não é mais o mesmo,  rouba uma galinha mágica que coloca ovos de ouro toda a vez que for solicitada, isso representa ter domínio e responsabilidade sobre algo ou alguém.
Nesta terceira vez, o protagonista rouba uma harpa de ouro que canta as mais belas canções. As vibrações do instrumento representam as aspirações espirituais. O herói rouba por duas vezes elementos que alimentam as aspirações materiais da vida, no entanto, espiritualmente falando, segue pobre, de espírito e de equilíbrio psicológico. Para alcançar isso ele rouba a harpa, pois ela representa a arte.A leitura de João e o pé de feijão é ao meu ver uma boa leitura para as mães além de para crianças e adolescentes. Acho que seria muito interessante as escolas adotarem esse clássico no ensino médio.
Acho também que vou descansar a tagarela e segunda eu volto. Até!
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