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Elisa Lucinda, para quem não sabe, é uma poetisa, jornalista, cantora e atriz brasileira, por quem tenho especial admiração, gosto do seu jeito simples, do olhar, da energia quando canta e atua, do seu lado poeta e trouxe hoje algumas palavras dela, que em uma entrevista na semana passada, disse achar que para escrever, para ser poeta é preciso não perder o espanto, ser como criança e não achar o biscoito de ontem igual ao de hoje, ainda que sejam idênticos, ter o gostinho, o encantamento, a euforia de estreia a cada estreia e reestreia de tudo, ter olhos abertos para coisas simples. Anotei no papel e coloquei em negrito por dentro o que eu já tinha como certeza, de não ser o necessário não só para escrever, mas para viver. Segue trecho de apresentação de um de seus livros, chamado: "A Fúria da Beleza":
"Uma hora a gente joga, outra hora é a vez da vida jogar. É assim sempre. Mas, às vezes, a gente quer forçar a barra da vida, impor a ela nosso desejo, enquadrá-la à nossa pressa, determinar o seu tempo, ditar sozinho a ordem das cenas do grande roteiro. Acontece que a vida também é rio, é mar; está sujeita às correntezas, às luas, às tempestades, aos sóis, aos desígnios do vento e nos põe diante da sua verdade incontestável: ela flui. E nos cabe respeitar sua fluência.
Por vezes é difícil aceitá-la. Então a literatura vem e ensaia a gente: quando esse livro começou a nascer, seu embrião tinha outro nome, Caderno abóbora. Pretendia esse ser um livro ensolarado, explodido de cores, matizes, com poemas nascidos de um caderninho laranja que tive, donde só saia poema bom. Organizei-o nessa viagem, cuja estrutura se concentrava na variação desse tema cor. Como um fruto que amadurece e passa do seu tempo de colheita, esse Caderno abóbora caiu na relva.
Ficou lá, exposto às chuvas, às secas, invernos, geadas, verões intermitentes e às minhas mudanças. Enquanto isso, saiam da mesma árvore e na frente, livros para criança. O fruto ao cair partiu-se e partindo retornou ao seu estado de semente, se misturando de novo à velha terra. Silêncio sobre esse nome.
Enquanto isso a fábrica de poema trabalhava dia e noite sem parar e, quando pude me dedicar ao velho livro, cinco anos depois de sua ideia original, ele já era outro. É certo que não deixou de ser um livro de tons na sua ossadura onírica de cronos e cromos. Havia um espanto além das cores e havia também outros cadernos cheios de outros poemas que falavam ao meu coração, além daquele caderninho fértil. Aos poucos A fúria da beleza, mero nome de poema, foi virando o nome de um capítulo do livro. Dei uma saidinha e quando voltei ele já era o nome do livro e tinha tomado o poder."
Tomemos o poder, ouçamos e observemos o que nos cerca, o poder da natureza, dos ensinamentos e valores em que acreditamos e sigamos com poesia, proza, crônicas, narrativas, no comando e na carona, olhando para o lado, pra trás, para frente, observando, contemplando com euforia de estreia, se adaptando ao que for preciso se adaptar, colocando  a mão na massa, a faca no dente, os pingos nos is, buscando e praticando paz e bem nessa semana e em todas as outras que vem.

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