Ontem fiz um postagem sobre Saramago e Manoel de Barros e como já falei muito por aqui sobre Mané, resolvi falar mais um pouquinho sobre Saramago. Tenho algumas coisas dele, dentre elas a sua biografia, um recorte da Folha de São Paulo do dia de sua morte e um apreço imenso pelos seus escritos.
Dentre os livros favoritos estão, em primeiríssimo lugar: "O conto da ilha desconhecida" que não tenho, pois sempre procuro comprar os que ainda não li, "Todos os nomes" e "Pequenas memórias" (tenho os dois). Comprei como desculpa de ser para meu filho o único livro infantil que ele escreveu, chamado: "A maior flor do mundo". Recomendo para os pequenos com e sem segundas intenções.
Comprei pelo site da cultura em uma promoção de livros da Companhia das letras, um novo que eu não conhecia, escrito para o público jovem. O nome e o resumo me pegaram de jeito e essa parte de ser para jovens dei por secundária. O livro se chama: "O silêncio da água" e já está aqui em minhas mãos. Uma fábula construída a partir de uma lembrança da infância do autor que culmina em um despertar de sua lucidez e nos propõe o mesmo.
"Em uma tarde silenciosa, um garoto vai pescar à beira do Tejo e é surpreendido por um peixe enorme que lhe puxa o anzol. Infelizmente, a linha arrebenta, deixando-o escapar. Ele corre até a casa dos avós, com a esperança de voltar, rearmar a vara e “ajustar as contas com o monstro”. Claro que, ao alcançar o mesmo ponto do rio, o menino não encontra mais nada, apenas o silêncio da água".
"Em uma tarde silenciosa, um garoto vai pescar à beira do Tejo e é surpreendido por um peixe enorme que lhe puxa o anzol. Infelizmente, a linha arrebenta, deixando-o escapar. Ele corre até a casa dos avós, com a esperança de voltar, rearmar a vara e “ajustar as contas com o monstro”. Claro que, ao alcançar o mesmo ponto do rio, o menino não encontra mais nada, apenas o silêncio da água".
Não tão facilmente entendido em seus escritos, com posições políticas e religiosas enfáticas e rígidas, estilo narrativo que exige uma leitura atenta e apurada, releituras e aceitação de palavras e referências portuguesas, bem como muitas metáforas, ele é um escritor muito lido aqui no Brasil.
Já li e ouvi muito sobre a não compreensão de ele não ser tão querido em Portugal como é aqui e penso que o mesmo se aplica por exemplo a Jorge Amado, mas conhecido, lido e estudado lá fora, embora aqui seja querido. Isso pode ser entendido do ponto de vista das referências feitas por eles não serem do gosto de quem habita os cenários de suas narrativas ou pelo marketing voltado para o exterior de suas editoras e assessorias.
Do documentário que vi, resolvi destacar a carência e a falta de noção das pessoas. Uma fã, dizer a ele que o ama é meio que não amá-lo, uma vez que o conhecendo saberia da sua reprovação a essas declarações e usos vãos das palavras e sentimentos. Bem como pedir que ele desenhe um hipopótamo em uma fila de autógrafos enorme e vigiada, que anunciou-se não haveria dedicatórias por falta de tempo, apenas autógrafos e o desenho ser para um site de desenhos de hipopótamos de pessoas famosas.
A intimidade e bastidores da vida de Saramago nas filmagens não inclui a fase critica de sua doença, mas tem revelações e tons de despedida, a maior delas feita a Pilar, sua amada, ao fim do documentário. Descobri que o Doc virou um livro de subtítulo "Conversas Inéditas", com algumas coisas a mais e outras a menos.
Sempre muito questionado se teria medo de morrer (fé e salvação não faziam parte de suas crenças), ele mostrou seu ceticismo publicando antes de partir "Caim", sua última interpretação polêmica da Bíblia, que revelou ter o insight da criação na viagem entre Rio e São Paulo, durante o lançamento de A viagem do elefante.
Sobre a Premiação na Academia brasileira de letras, frases e declarações, vale ver o documentário. Para fechar dou a palavra a ele: "Das habilidades que o mundo sabe, essa ainda é a que faz melhor: dar voltas'' e "De que adianta falar de motivos, às vezes basta um só, às vezes nem juntando todos". "A única maneira de liquidar o dragão é cortar-lhe a cabeça, aparar-lhe as unhas não serve de nada". "Tentei não fazer nada na vida que envergonhasse a criança que fui". "O caos é uma ordem por decifrar". "Se podes olhar. vê. Se podes ver, repara".