Escutei uma história das muitas contadas e comentadas por Mario Sergio Cortella, que resolvi trazer para cá, para compartilhar. “Em uma corrida de cross-country, o queniano Abel Mutai, medalha de ouro nos três mil metros com obstáculos em Londres, estava a pouca distância da linha de chegada e, confuso com a sinalização, parou para posar para fotos pensando que já havia cumprido a prova. Logo atrás vinha outro corredor, o espanhol Iván Fernández Anaya. E o que fez ele? Começou a gritar para que o queniano ficasse atento, mas este não entendia que não havia ainda cruzado a linha de chegada. O espanhol, então, o empurrou em direção à vitória. Bom, afora o ato incrível de fair play, há uma coisa maravilhosa que aconteceu depois. Com a imprensa inteira ali presente, um jornalista, aproximando o microfone do corredor espanhol, perguntou: “Por que o senhor fez isso?”. O espanhol replicou: “Isso o quê?”. Ele não havia entendido a pergunta (e o meu sonho – o nosso caro Cortella - é que um dia possamos ter um tipo de vida comunitária em que a pergunta feita pelo jornalista não seja mesmo entendida), pois não pensou que houvesse outra coisa a ser feita que não aquilo que ele fez. O jornalista insistiu: “Mas por que o senhor fez isso? Por que o senhor deixou o queniano ganhar?”. “Eu não o deixei ganhar. Ele ia ganhar”. O jornalista continuou: “Mas o senhor podia ter ganho! Estava na regra, ele não notou...”. “Mas qual seria o mérito da minha vitória, qual seria a honra do meu título se eu deixasse que ele perdesse?”.
Para arrematar o pensamento do filósofo alemão Immanuel Kant: “Tudo que não puder contar como fez, não faça”, as razões para não contar, são as razões para não fazer, fecha Cortella e fica a dica.
Para arrematar o pensamento do filósofo alemão Immanuel Kant: “Tudo que não puder contar como fez, não faça”, as razões para não contar, são as razões para não fazer, fecha Cortella e fica a dica.