"Séculos antes da invenção das máquinas fotográficas, os japoneses já eram mestres na arte de fotografar. Fotografavam sem máquinas. Para isso usavam palavras. Suas maravilhosas miniaturas fotográficas feitas com palavras tem o nome de haicais. Quem lê um haicai vê. São tão pequenos mas pesam tanto.
Leminski, valendo-se de uma sugestão de Jorge Luis Borges, descreve um haicai como um objeto poético mínimo de peso intolerável. Não tente entender. Você entende um por do sol? Um pássaro em voo? Um sorriso da pessoa amada? Não são para ser entendidos. São para ser vistos.
O prazer do que se vê está no ato de ver e não no ato de pensar sobre o visto. Os pensamentos prejudicam a visão. Não foi à toa que Alberto Caieiro afirmou que "pensar é estar doente dos olhos". Quem lê um haicai fica curado dos olhos por nos obrigarem a não pensar. Veja esse haicai: " Na velha casa que abandonei as cerejeiras florescem". Acabou. É só isso. Agora, sem ser levado pelo desejo de compreender, entregue-se à visão. Veja a casa velha. A casa que abandonei. Passei por ela. Triste solidão. Os muros estão caídos. O jardim de outrora se transformou num matagal. As paredes estão descascadas. Mas, a despeito desse abandono, as cerejeiras florescem." Trecho de um dos textos do livro: Ostra feliz não faz pérola, de Rubem Alves. Sem mais e cheio de reticências.
O prazer do que se vê está no ato de ver e não no ato de pensar sobre o visto. Os pensamentos prejudicam a visão. Não foi à toa que Alberto Caieiro afirmou que "pensar é estar doente dos olhos". Quem lê um haicai fica curado dos olhos por nos obrigarem a não pensar. Veja esse haicai: " Na velha casa que abandonei as cerejeiras florescem". Acabou. É só isso. Agora, sem ser levado pelo desejo de compreender, entregue-se à visão. Veja a casa velha. A casa que abandonei. Passei por ela. Triste solidão. Os muros estão caídos. O jardim de outrora se transformou num matagal. As paredes estão descascadas. Mas, a despeito desse abandono, as cerejeiras florescem." Trecho de um dos textos do livro: Ostra feliz não faz pérola, de Rubem Alves. Sem mais e cheio de reticências.