Dia desses, comentei aqui em um post abandonado coitado (zero comentários e a satisfação pessoal de que meus delírios verbais me tarapeutam), que sou fã das palavras belas de Miguel Falabella e são deles as palavras que seguem: “É do ser humano embrenhar-se pelos labirintos à cata dos gestos que nos formaram e que são as fundações das nossas pequenas civilizações particulares”.
O jeito de dormir, de mexer no cabelo, de ficar de pé na pia lavando a louça, de cortar os legumes, de segurar no volante, o modo como um tio nosso abraçava, como nosso avô sorria, como nossa vó mexia nos botões da roupa, como escolhia e tratava o peixe. Olhares, movimentos, a chamada arqueologia dos gestos, para ilustrar, sem imagens e cheia delas, com a palavra de novo, Miguel:
“E é lá, na penumbra do labirinto, que vamos nos deparar novamente com as cozinhas, terraços e pátios de outrora e encantar-nos com os pequenos gestos que, de tão frágeis e efêmeros, aprenderam a multiplicar-se para sobreviver. A mão que me estendia a mamadeira, ao alvorecer, repetia o gesto infinitas vezes, cidade afora, levando na espuma branca do leite todo o amor que fosse possível aprender. É igualmente no labirinto que podemos descobrir para onde foram os valores que esses pequenos gestos nos transmitiram um dia e que constantemente a vida nos tenta fazer esquecer. Acreditem! Estão lá, presos para sempre em seus cenários.”