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Mumúrios, palavrices, sotaques, misturas

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Preconceito Linguístico é o nome de um dos livros escritos por Marcos Bagno, que trata de uma forma de discriminação muito presente no Brasil e além fronteiras. Eu, que dou valor aos sotaques pela representatividade social, regional, cultural, pela sonoridade e poesia que representam fiquei de cara dia desses com uma matéria na tv que apresentou a prática (com concordância) da escolha de palavras, desaparecimento de pronúncias diferenciadas e variações linguísticas por situação de status, de imagem. Tipo não falar tu para não ser visto como interiorano, não falar r ou s puxados, não falar determinada palavra para não parecer (sendo) nordestino, se policiar e assim todos falarem sem marcas. Além do surreal da coisa do ponto de vista linguístico em si, penso que é uma perda total de identidade.
Ai na emenda da minha desaprovação a tal matéria, recebi a indicação de leitura de uma resenha desse livro de Marcos Bagno que citei e linkei (e em pesquisa rápida, por outros me interessei, como pelo que ilustra o post) e resolvi remendar, para a linguagem ser do tipo popular, no final de hoje da novela global: Império, que valeu por ter um nordestino no papel principal e outros tantos com apontamento no preconceito, mas pecou pelo excesso de caricatura, com deboche, folclore e tal.
Não precisa o personagem dizer que tem orgulho de ser nordestino, não precisa ser apresentado assim e é preciso sair desse imaginário de que nordestino fala inglês misturado a suas falas quando quer parecer chique ou esperto (eu não conheço nenhum além de outro personagem global de uma outra novela) ou que baiano fala "Meu rei". Falamos um dia, num passado distante, tipo gíria que já mudou mil vezes. Falamos desde sempre oxi, oxenti, vixi e outras tantas palavras e expressões que bem poderiam ser usadas sem circo, sem pontuar. 
A gente tem que aprender a respeitar e se não se encantar deixar passar o jeito de falar das pessoas. Vale e cabe aqui o elogio ao comentarista esportivo global pernambucano, com seu sotaque sem podas ou destaques que segue na comissão de frente, sem mais. Simples assim! Vale ter mais sotaques de todo canto, vai ter Guga, e que ele fale como sempre falou, que hajam outros representantes de outros falares nos telejornais nacionais, novelas, vale muito a variação linguística, é um tesouro, deve ser um orgulho, pois a língua é uma das maiores riquezas de um povo. 
Eu, formada em Letras, tinha como matérias prediletas, Literatura e Linguística, então sou suspeita para falar desse assunto, além do que, sou praticante do falar e escrever com traços da minha raiz (com atenção e cuidados para o entendimento comum) e quem se meter a besta de fazer alguma piadinha ácida ou preconceituosa, rodo a baiana. Falar que acha engraçado sem sarcasmo, comentar, tudo bem, dai eu também comento sobre o modo de falar da pessoa, porque acho mesmo legal ou para em alguns casos dar uma situada que a fala da pessoa também é diferente, para fazer valer e valorizar a mistura.
Esse preconceito primitivo também é presente em relação aos hábitos de cada lugar, a cultura, forma-se e propaga-se esteriótipos que nada agregam e não representam determinado povo, lugar. Eu por exemplo não admito que chamem baiano de preguiçoso, como disse uma vez uma amiga minha, acho até que já contei por aqui, em defesa dos baianos em uma reunião em São Paulo, onde a preguiça foi pontuada como traço comportamental local, que baiano na real é retado, porque acordar de manhã e olhar para os prédios, barulho, movimento de Sampa e ir trabalhar tem toda uma sinergia, mas acordar e ver, ouvir o mar, ver o céu azulzinho e ir trabalhar é que é ser trabalhador. Só mais uma brincadeira para descontrair, com todo meu bem querer a Sampa, é que adoro a clássica tiradinha de Jorge Amado, para o comentário que Preguiça mata. Inveja também! Amado com seu amor a Bahia, sotaques, palavrices, teve e tem admiração e sucesso mundial que só ratifica o valor da língua, da cultura popular, que devemos dar e que quem é de fora dá e respeita se a gente se fizer respeitar.
Olhai a beleza da diversidade linguística! Clica nessa frase exclamativa para ler uma entrevista com o linguista Carlos Alberto Farraco e vamos olhar, ver, valorizar, manter viva a diversidade da nossa língua. Inté e axé!

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