Quantcast
Channel: Meu Blog e Eu
Viewing all articles
Browse latest Browse all 957

Na mesma tecla

$
0
0
Acho válido bater na mesma tecla quando se trata de determinados assuntos, pois nesse meio aqui onde escrevo, muitos passam um dia e não passam no outro, muitos prestam atenção em um dia e não no outro, comentam ou não e também porque as vezes o cesto é tão cheio que temos que esvaziar mais de uma vez. Falei aqui dias desses sobre um assunto que na mídia e na prática muito tem se discutido: a alteração dos textos de Machado de Assis, que se estende aos clássicos de uma maneira geral. Essa proposta, tosca ao meu ver, de reimprimir as obras objetivando um vocabulário simplório, ao nível do público menos letrado e ao alcance de cifras, é surreal!
A escritora Nélida Piñon resumiu bem quando disse que hoje se publica o que vende e não mais o que fica. E qual a literatura consumida no Brasil? Os tais sádicos tons cinzentos, vampiros, ficções medievais, caricatos romances melodramáticos, desconstrução de clássicos sem muita criatividade, substância ou com relevantes maus exemplos.
Para mim além da proposta, é chocante a complacência de pessoas cultas, sejam as que me cercam, sejam figuras ilustres e críticos com essa subliteratura e o apoio a simplificação e atualização da literatura.
Tantos escritores bons sem leitores na proporção ideal e tantos escritores de conteúdo e ritmo industrial, que não se importam com estética e se importam demais com fama! Oh Lord!, como diz uma amiga minha. Acho que toda literatura é válida, com públicos e usos bem específicos em certos casos,  mas as que deveriam ganhar visibilidade não deveria ser as que os editores definem como comerciais ou que o autor seja corporativo cumpridor de metas de vendas e antenado com as necessidades do mercado.
Vibrei em laranja quando o livro de Leminski ficou no topo dos mais vendidos e suspirei da cor da capa ao verde esperança, mas, analisando friamente, os autores e obras que as editoras inserem e sustentam na mídia, ruins ou bons são negociados e sustentados por interesses diversos, seja no alcance de sua popularidade seja no tempo de permanência nas prateleiras e noticiários.
E nessa geração de leitores de massa, do bobo ao tosco, Machado de Assis precisa, pensando pequeno, ser reescrito para vender e fazer pareja com os novos clássicos pobres e vulgares da literatura em resenhas, programas de entrevistas, blogs, cadernos culturais e afins. Triste fim de Policarpo Quaresma! Triste fim de seu criador Lima Barreto, de Machado, de Monteiro, de Pessoa, das pessoas. Triste fim da literatura de qualidade. Que os bons a tenham!
Policarpo como bem sabe quem leu e para os que não leram (vai que no resumo e atualização mudam isso), tem muito de Dom Quixote, ambos com uma visão do sublime que a realidade em volta não comporta. Assim como sou com meus muitos ideais românticos e recebo críticas na lata ou veladamente e venho percebendo que a zombaria esconde muitas vezes as limitações e distorções dos outros. Sou fã de Policarpo e seu idealismo e carão de não ter se deixado levar pelo mundo enlatado e limitado da alta sociedade carioca do século XIX. E tenho dito!

Viewing all articles
Browse latest Browse all 957