Recebi por e-mail o link de uma matéria da Revista Vida simples, escrita por Viviane Zandonati, enviada a mim pela amiga blogueira Chica, que falava dos espetáculos e falta de tempero familiar nas festinhas infantis de hoje em dia. Para mim vale para festas de um modo geral, tudo muito cênico, escalafobético, teatral. A parte teatral sempre me lembra um episódio do artístico Bob esponja, clica aqui para assistir.
O que me trouxe aqui para cronicalizar sobre o assunto foi a matéria, minha concordância com a reflexão proposta e um papo entre amigos sentada no chão da sala em visita a uma menininha que fará um aninho e que convivi pequenina com sua mãe e juntas assopramos muitas velinhas nas salas de nossas casas, na mesa toalhas de crochê feitas por nossas mães, herdadas por elas de suas mães, ou por tia rendeiras. Toalhas brancas do tipo para dias de festa ou estilo floral, com frutas e estampadas que destoavam com tudo e nem reparávamos isso. No dia anterior do aniversário uma festa a parte acontecia, a chamada trabalheira hoje, era divertida, tirada de letra, feita enquanto se assistia a novela e a mãe dela entre o descolar de forminhas e enrolar de balas com papel de franjas, descascava laranjas em espiral sentada no chão para chupar enquanto resenhávamos, para animar a mexer no fogão: brigadeiro, beijinho, moranguinho, cajuzinho, deixar esfriar e todo mundo enrolar e fazer rolar em açúcar ou confeito.
Essa minha amiga reservou uma casa de festas e o marido disse que achou que dessa vez, após o chá de fraldas com mínimos detalhes, culinarices, decoração artesanal, vai e vem sem fim, só iria a festa e pronto, mas ela achou que tudo era muito impessoal e está produzindo enfeites para as mesinhas e para mesa principal, providenciando forminhas diferenciadas não disponibilizadas pela tal casa e tive que dar meu apoio, mais do que pela personalização, pelo envolvimento, pela participação, pelo prazer e poder dizer: fui eu que fiz.
No caso das crianças vale sempre as festinhas em casa, só para família e sem bebidas alcoólicas, detalhe coerente e destilado de valores. Festa com balões coloridos, assoprados com ar familiar e bons desejos, amarrados com maestria (no meu caso, com medo), espalhados pelo chão, painel colado na perde com fitas que hoje em dia não arrancam tacos da tinta e que quando arrancavam, isso não era desculpa, criança devidamente fantasiada ou com a roupa de todo dia que lhe confere identidade e descontração, bolo feito pela mãe, vó ou até mesmo encomendado mais não enlatado, nem com sabores exóticos e mais enfeites que sabor. Fotos que amanhã vão ter exclamações do tipo: - Lembro dessa mesa, dessa estante, desse quadro! Ó minha blusinha que eu amava!
Para os convidados mirins além de pula pula e espaço necessário para tal ou para outros brinquedos alugados, muitas vezes fora do orçamento, vale e faz feliz folhas de cartolina ou papel metro espalhados pelo chão, lápis de cor, hidrocor, cola, recortes de papel, areia prateada. Um balde cheio de água com sabão e sopradores de bolinhas. Vale pega-pega e se esconder com adulto junto para organizar e aproveitar para voltar a ser criança.
Trilas sonoras adequadas e selecionadas previamente, lembrancinhas originais. Como bem define o título da postagem, frase recortada da matéria da vida simples, dita pelo psicanalista francês Lacan. No dia, tudo feito, visto e vivido acabará ali. Ao passo que vale aproveitar a preparação quando tudo é porvir e tantos sentimentos e sensações são latentes e nesse quesito o deixar para decidir na hora muito comum nas comemorações de aniversários de gente grande, por praticidade, modinha, marra, por não ser prática programar coisas, viver ao sabor do momento, que acaba por perder o sabor dos preparativos planos, idealizações. Tudo muito prático e impessoal, sem identidade ou referencias, num bar invariavelmente, vale até festa de Natal da empresa em uma boate. Que horror!
No quesito ser anfitrião reprovação em massa, seja em festas espetaculosas ou nas em salões de festas e no espaço ínfimo de uma casa. Os aniversariantes, formandos, donos da comemoração, não circulam, ficam muitas vezes focados em determinados convidados, se instalam em uma mesa, são alheios a seu papel coletivo na festa, além do individual.
É massante também a necessidade de exibir o valor dos gastos, figurinos, menus e esbanjamentos que do que muitas vezes não se tem e que não faz o evento ser mais divertido, apenas mais ostentador e se esse é o valor dado por quem nos cerca, temos que rever quem nos cerca, penso eu cá com meus balões. "Não foi apenas o trabalho que ficou envenenado pela filosofia da competição, o lazer está igualmente envenenado. O lazer sereno e restaurador dos nervos passou a ser encarado como enfadonho." (Bertrand Russell) Pena! Mas como sou passarinha e cercada de passarinhos, penas para quem queremos e o que queremos e somos, sigamos saltitantes e contagiantes, lambendo panelas e colocando cirandas do sol na janela para no dia das festinhas não chover.