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Neologismos dos outros, meus e seus

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Palavras inventadas e intervenções artísticas de Jorge Menna
Já disse por aqui que adoro palavras inventadas, pratico por gosto inventar e por contágio por vezes involuntário adoto criações alheias. Sei de quem fez um dicionário com os seus neologismos, foi o poeta escritor Marcílio Godoi, na sua encantadeira obra de invenção de palavras, o Pequeno dicionário ilustrado de palavras invenetas, que dei de presente a um amigo menino palhaço ano passado, que como já era, ficou ainda mais encantado.
Conta-se que um certo cabra, tradutor de ofício, para valorizar-se diante de um editor, estufou o peito e com voz de importante declarou: "Domino várias línguas, inclusive a de Guimarães Rosa". Entre as invenções mais célebres de Guimarães destaca-se: nonada, palavra de abertura do romance Grande Sertão Veredas, que significa “coisa sem importância”, fusão de “non” (do português arcaico) com “nada”.
Além de sentido, penso que todo criador e repetidor das palavrices inventivas tem gosto pela sonoridade tanto quanto pelo significado delas. Autodenominado por uma palavrice: “manobreiro” de palavras, o poeta Manoel de Barros é brilhante praticante de inventar ou como ele diz, desarrumar palavras. Sou fã!
Seguem peneiradas para apreciação, palavras por alguns mestres inventadas, inevetas, irreverentes e latentes de sentidos e sentimentos, para gente se contagiar e se por a palavras inventar. 
Arreleque (asas abertas em forma de leque), circuntristeza (tristeza circundante), suspirância (suspiros repetidos), coraçãomente (cordialmente), descreviver (fusão de descrever com viver), fluifim (ideia de que o som e o sentido das palavras deveriam caminhar juntos). Todas essas são criações do mestre Guimarães.
Nadezas, transvê (ver além), invencionática (a arte de inventar em contraponto a informática), palavrezes de Manoel.
Estupendo (Camões), repensamento, não-domingo e roupa de missa (Drummond), desmiolamento, apenasmente, patrasmente (Dias Gomes), urubuservar (Chico Science). 
Para arrematar, frases e reflexões de um estudioso e praticante: "Renovando a língua se pode renovar o mundo". “Invento palavras para que digam coisas que nenhuma outra diz”. Declarações de Mia Couto que defende a criação e recriação da língua, prática que é culturalmente fértil e ainda possibilita a mediação, a troca, a sintonia entre as diversas classes através de palavras. Acentuo e pontuo com meu desejo de uma semana fértil de neologismos dos outros, meus, seus, invencionismos, colheitas e proveitos. Vamos que vamos!

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